terça-feira, 26 de agosto de 2014

A porta estreita


No evangelho deste Domingo, o XXI do Tempo Comum, Jesus continua Seu caminho para Jerusalém, rumo à Sua paixão, morte e ressurreição. Seu caminho é o dos cristãos.
Pois bem, no caminho, fazem-Lhe uma pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” É daquelas perguntas que Jesus não responde, porque se fundam na curiosidade inútil e não naquilo que Ele veio revelar e inaugurar: o Reino de Deus, que exige de nós uma abertura de coração e uma resposta de amor para segui-Lo no caminho.
Atualmente, é tão comum apresentarem um cristianismo de curiosidade sobre o fim dos tempos, sobre milagres, sobre curas… Um cristianismo interesseiro, que busca somente emoção e solução de problemas… Tudo isso é um falso cristianismo: vazio, anti-evangélico e sem sentido algum… Um cristianismo que trai o Cristo!
Ao invés de responder a pergunta que Lhe fizeram, o Senhor vai direto ao ponto que realmente interessa… Por isso, responde com uma advertência: Não é da nossa conta se são muitos ou poucos os que se salvam! Interessa, isso sim, que tenhamos uma tal atitude hoje, no presente de nossa vida, em relação ao Senhor e ao Seu Evangelho; interessa que possamos herdar a salvação: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”. Portanto, o Senhor chama nossa atenção para o presente, como estamos nos posicionando agora em relação a Ele!
Por que o Senhor afirma que a porta é estreita e que muitos tentarão e não conseguirão?
Será que Deus nos preparou uma armadilha?
De modo algum! Na Casa do Pai há tantas moradas…
A porta é estreita porque nos tornamos grandes demais, autossuficientes demais, prepotentes demais, demasiadamente cheios de nós mesmos, inchados! A porta é estreita porque nossas manhas sãos largas… Portanto, há um combate a ser travado em nós, para nos adequarmos ao Reino de Deus.
O Reino é para os pequenos, e nos tornamos gigantes pelo orgulho, a soberba, a autossuficiência.
O Reino é para as crianças, e nos tornamos adultos no sentido da velhacaria, da desconfiança, do cinismo, do cálculo segundo a carne!
Quando Miguel de Unamuno morreu, encontraram na sua mesa de trabalho estes versos:
“Aumenta a porta, meu Pai,
para que eu possa passar!
Tu a fizeste para as crianças
e eu cresci, a meu pesar!
Se não aumentas a porta,
diminui-me, por piedade!
Faz-me voltar à idade
em que viver era sonhar!”
Eis! Voltar a ser criança, a ser pobre, a ser confiante, pequeno, ante o Senhor! Em uma palavra: deixar que o Senhor reine em nós, que o Seu Reinado nos invada! Mas, o quê?! Crescemos, queremos nós mesmos controlar nossa vida, decidir de modo autônomo, sem Deus, os nossos passos! Seguindo nossa lógica, nossos instintos, nossas paixões, não entraremos! Não entrará no Reino quem primeiro não deixar o Reino entrar em si, no seu coração e na sua vida!
Vejam, meus Amigos, a luta de que falei, a necessidade da conversão! Enquanto teimarmos em viver do nosso modo, pensando do nosso jeito, vivendo à nossa medida, em suma, sendo o reizinho da nossa vida, o Senhor não reinará em nós, Seu Reino bendito não será uma presença na nossa vida… repito: se o Reino não entrar em nós, nós não entraremos no Reino!
Aliás, querem mesmo saber qual é essa tal porta estreita? Querem, de verdade?
Tem uma cruz aí perto de você, na sua sala, no seu quarto?
Olhe para ela… Viu como é estreitinha?
É por ela que é preciso passar, é nela que é necessário entrar!
Eu imagino que você tenha medo – eu também tenho tanto medo, cada vez que olho para ela…
Mas, tenha medo não (eu digo sempre isto param im mesmo!): o Cristo, nosso Senhor passou primeiro, abriu-nos o caminho! Não estaremos sozinhos!
Tenha medo não: detrás dessa porta está o Reino, a Luz, a Liberdade, a Paz, a Vida, a Glória imperecível! Não há desvio, não existe atalho, não é possível arrodeio: “Quem não ama a cruz de Cristo não herdará a glória de Cristo!” (São João da Cruz)
Uma coisa é certa: ser cristão, caminhar para o Céu, não é um passeio, não é um caminho fácil, não dá nem para pensar que é num passe de mágica, num sorriso, num vago sentimento de piedade, num oba-oba qualquer! “O Reino sofre violência e violentos se apoderam dele!” (Mt 11,12)
Sem conversão – sem disciplina, renúncia, esforço, perseverança, mudança de atitudes e hábitos, sem oração – não se pode entrar no Reino de Deus! Jesus é taxativo – e dá medo! – “Eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão!”
Por isso mesmo a Leitura do Apóstolo, neste Domingo, nos previne: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não desanimes quando Ele te repreende; pois o Senhor corrige a quem Ele ama e castiga a quem aceita como filho! É para a vossa educação que sofreis! Portanto, firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vosso pés, para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado!”
Qual o seu vício? – Combata-o?
Quais os seus pontos fracos em relação a Cristo? – Elimine-os, com a ajuda da graça!
Qual o seu pecado? – Lute para sair dele e ser livre para o Senhor?
Qual a sua provação? – Com a força que vem do Senhor, supere-a!
Há ainda mais dois aspectos importantes para os quais o Senhor chama a nossa atenção:
(1) Haverá um momento final, definitivo, decisivo e irremediável na nossa existência: “Uma vez que o Dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’.”
Tremendo, não é? Não dá para disfarçar, não dá para dizer que não é bem assim, não dá para procurar explicações fajutas para mascarar a gravidade das palavras do Senhor!
Cuidemos, portanto, porque haverá um Momento final, um julgamento definitivo, um Céu ou um Inferno que nunca passarão! Não nos esqueçamos disso; não brinquemos com isso!
Depende de nossas escolhas, de nossas atitudes bem concretas em relação ao Senhor e Seu Reinado em nossa vida, para que esse Momento Final, momento tremendo, seja a entrada na Plenitude ou um salto no Vazio danado, seja um átimo de terror inexprimível ou, ao invés, o melhor de todos os nossos momentos!
2) Seremos julgados por nossa relação com Ele, o Cristo Senhor. Se hoje O amamos, se hoje vivemos o Seu Evangelho, se hoje praticamos a justiça do Reino que Ele trouxe, seremos reconhecidos por Ele; caso contrário, seremos rejeitados: “Começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de Mim todos vós que praticais a injustiça’”.
Nosso futuro está ligado à nossa atitude concreta em relação a Jesus hoje!
Por isso mesmo, hoje escutemos, mais uma vez, a advertência do Autor da Carta aos Hebreus: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga a quem aceita como filho…” É no hoje da vida que o Senhor nos espera; é no nosso presente que o nosso futuro eterno é decidido.
Como tenho vivido meu hoje, meu presente em relação ao Senhor? Vou construindo meu céu ou meu inferno?
(DOM HENRIQUE SOARES DA COSTA)

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