sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Perfumes do Tempo do Natal

Para os cristãos que não se contentaram com um período natalino de simples gestos exteriores costumeiros, modos simplesmente repetitivos, em nome de um difuso e confuso “espírito de natal” que ninguém sabe o que é, para quem procurou realmente celebrar de modo religioso a festividade cristã, este tempo sagrado ora findo deve deixar renovadas no coração algumas certezas.

A primeira e mais importante dessas certezas:
Há um Deus no Céu e este Deus Infinito, Incompreensível, Santo, não é teórico, frio como um teorema, distante quanto uma galáxia no extremo do universo. Nada disso!

O Deus grande, santo, misterioso, inatingível, fez-Se Emanuel, Deus-Conosco, Deus-um-de-nós, Deus humanizado! - Que coisa: Deus apequenou-Se, Deus humanizou-Se!

Isto não significa que Se tornou nosso amiguinho de farra, nosso parceiro, o cara legal, gente boa com quem podemos barganhar ou brincar! Não! Ele continua o Santo, o Misterioso, mas ao mesmo tempo próximo no Seu amor, na Sua misericórdia na Sua ternura salvífica.

Aliás, segundo as Escrituras Santas e a fé da Igreja, para isso Ele criou tudo: para nos visitar e tudo levar à Sua plenitude: “De Sua plenitude recebemos graça sobre graça!” Criou tudo para Si e tudo somente Nele encontra a plenitude do ser e do sentido! Simples assim, grave assim, urgente assim, trágico assim!

Outra certeza: Se Deus entrou no tempo do mundo, todos os nossos tempos agora são povoados pelo Senhor, todos os nossos tempos tornaram-se semente de eternidade, da Eternidade do Deus eterno!Os tempos fugazes, passageiros, de nossa existência tornaram-se grávidos de Glória, do ser imperecível, imorredouro, do próprio Deus!

Quando vivemos a vida diante Daquele que veio a nós, com Aquele que nos visitou, vindo da Virgem, tudo ganha novo sentido, tudo tem gosto de eternidade: até a dor, até as lágrimas, até a morte...

Deus está conosco; não estamos sozinhos nem na vida nem na morte! O Infinito nos circunda, o Eterno nos envolve, a Vida nos abarca, nos penetra, nos encharca com o Seu Ser divino! De repente, para quem de verdade crê que Deus é Emanuel, tudo passa a ter gosto de Eternidade, tudo se transforma em semente de Eternidade!

Um terceiro aspecto: O Senhor veio em Belém, o Senhor vem a cada dia em cada situação, em cada decisão, o Senhor virá no momento da nossa morte, o Senhor virá um Dia, no Dia Final.

A vida de todo verdadeiro crente cristão deve ser vivida como um diálogo contínuo com esse Deus próximo, Deus que vem vindo sempre; a vida do crente é sempre uma resposta aos Seus apelos. O crente verdadeiro nunca vive primeiro diante de si próprio, mas fundamentalmente diante de Deus. É a partir do Altíssimo que ele mesmo se compreende, se sente, decide, caminha... "Anda na Minha presença e sê perfeito!"

Pense que vida: uma aventura de diálogo com o Eterno, uma resposta de amor ao Amor infinito, uma parceria bendita de amizade e ternura e delicadeza com Aquele que é o Mistério Santo, Sentido, Princípio e Fim de todas as coisas.

Quarta certeza: o Emanuel que nos veio não é simplesmente o Salvador dos cristãos.
Ele é a verdade do universo, a verdade da inteira humanidade, o Salvador de todos: veio para todos, veio para o mundo e a humanidade por Ele criados.

Isto compromete todo aquele que crê: temos o dever e a missão de falar do Menino, do Salvador, a todos quantos ainda não O conheçam. A fé em Cristo nunca deve ser imposta a ninguém, mas deve ser com franqueza e coragem proposta a todos!

Os cristãos devem renunciar a toda tentação de poder e de tutela sobre a sociedade, mas nunca devem abrir mão da missão de humildemente ser sal e luz para quem desejar encontrar o Sentido da existência!

Sim, no nosso mundo descristianizado – e olhe que nunca mais a sociedade como um todo será cristã! – temos a responsabilidade de dizer ao mundo que há uma Luz, que Ela brilhou em Belém e resplandeceu de modo definitivo na Ressurreição, de modo que o mundo tem sentido, a vida tem sentido, a criação tem sentido, os sonhos e tormentos dos homens têm sentido!

Com mansa convicção o Cristo deve ser sempre proposto sem nunca ser imposto! Foi assim nos dias da carne de Jesus, deverá ser sempre assim: Ele Se propôs, nunca Se impôs! Por isso mesmo veio pequeno, pobre, criança indefesa... Por isso morreu impotente, mais pobre ainda, homem de dores, crucificado, sepultado pelo pecado e o esquecimento do mundo...

Quinta convicção: O Deus que em Jesus nos visitou e nos convidou a viver na Sua santa presença, fazendo da nossa existência um amoroso “sim”, respeitará sempre a liberdade da nossa resposta...

Os Magos acolheram o Menino; Herodes O rejeitou, Jerusalém tratou-O com solene e fria indiferença. Será sempre assim!

Nós, cristãos, muitas vezes trazemos em nós a saudade dos tempos em que existia uma sociedade nominalmente cristã, com uma cultura gerada em grande parte por uma visão cristã... Estes tempos passaram e não mais voltarão! Mas, veja bem, meu Leitor: o anúncio do Cristo que por nós nasceu não deveria nunca ser feito de modo massificado, a toda uma sociedade. Ao menos não foi assim que o Cristo pensou!

O encontro com o Senhor será sempre pessoal; a resposta ao Seu apelo de salvação será sempre pessoal. Certamente, ao acolher o anúncio feito pela Igreja, o crente entra nessa Comunidade de fé, que é ao mesmo tempo Corpo de Cristo, a nossa Mãe católica. A fé, certamente, não é privada; mas, será sempre pessoal!

Não creio na possibilidade de uma cultura cristã; nem mesmo penso que isso seja um ideal pelo qual devamos os bater! Creio em cristãos sendo pouquinho de sal e teimosas chamas luminosas na cultura plural que vai se afirmando no mundo atual.

Eis o grande desafio para a Igreja inteira e para cada cristão: crer de tal modo no Senhor, vivê-Lo com tal intensidade, testemunhá-Lo com tal coerência e inteireza de vida, que o Senhor e Seus discípulos apareçam ao mundo como luz para quem desejar sair das trevas e sal para quem quiser encontrar o sabor da vida! Foi esta a missão que o Senhor nos deu com a Sua piedosa Vinda; esta será sempre nossa missão, até o fim dos tempos!
Fiquem no nosso coração estes perfumes suaves do Santo Natal! (Dom Henrique Soares da Costa)

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