O nosso mundo ocidental, superficial como é, foge da idéia da morte e, por outro lado, exalta o sexo. Sexualidade e morte (eros e thánatos) têm, para o homem, uma misteriosa relação. Há algum tempo atrás, o homem tinha plena coragem de encarar a morte (morria-se em casa, cercado dos filhos, netos, bisnetos) e revestia de pudor as realidades ligadas à sexualidade (não por medo ou vergonha, mas por consciência de algo misterioso, belo e grande demais). Hoje, é o contrário: o pudor é a respeito da morte; evita-se pensar nela, falar dela, admiti-la. Quem tem câncer, tem “CA”, nos hospitais, a velha e boa morte é mascarada com a palavra “óbito”; os cemitérios viraram “campos santos”, com cantinas e tudo quanto é disfarce para não parecer o que são... Eis, a propósito, algumas reflexões do Fr. Jean-Marie Tillard, um grande teólogo dominicano canadense, morto de câncer há seis anos:
“Parece que o princípio que explica a liberação sexual e conjuntamente a remoção da morte seja uma ilusão ingênua, superficial e... idiotamente feliz: o dever moral e a obrigação social de contribuir para a felicidade coletiva... dando-se a impressão de estar sempre felizes, mesmo se se toca o fundo da desolação (Observação minha: Pensem-se nos comerciais da TV: o pessoal sempre está sorrindo, sempre é forte, belo, sarado... Um mundo sem dor, sem problemas, sem a morte). Felicidade através de uma mentira a respeito da verdade da condição humana: é isto que o Evangelho contesta! Por isso, quanto mais refletimos sobre este ponto mais nos parece que o ocultamento da morte (enquanto nunca se chegou a matar tanto, não somente nas contínuas guerras, mas também antes mesmo do nascimento, pelo aborto) e o seu contraponto, o exibicionismo das realidades ligadas ao sexo, levado ao extremo (enquanto do ponto de vista psicológico nunca se teve tantos desiludidos), sejam o sinal de uma miséria do nosso mundo e da sua culpa consumada contra a verdade do homem.”
“No passado, somente os estúpidos sorriam do velho provérbio: ‘é na morte que o homem chega à sua realização’. Porque se percebia que havia uma relação essencial entre a idéia que alguém tinha da morte e a idéia que se tinha do homem. O homem da grande tradição cristã fazia questão de participar da própria morte - e não simplesmente suportá-la, - porque sabia que a morte é o momento único no qual a personalidade recebe a sua marca definitiva...”
“O homem terá sido senhor da sua vida somente na medida em que fez própria a sua morte. E não como uma conclusão inevitável, mas como um fim (no sentido filosófico de finalidade) e como um final (no sentido fisiológico de término). Eliminar da consciência dos homens a própria idéia da morte é, portanto, atentar contra a grandeza do homem...” (Do livro La morte: enigma o mistero?).
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